Por que os edifícios desabam? – artigo Orlando Pozzani Jr. 25/04/2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Orlando Pozzani Junior
Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho

Após uma tragédia, como o desabamento de um edifício, perguntas  sempre são feitas. Por que o edifício x desabou? Qual a causa para que isso acontecesse?

Como na queda de um avião, o desabamento de um prédio, normalmente, não se deve somente a uma causa, mas a uma sucessão de falhas que, muitas vezes, se ocorressem de forma isolada, não causariam o acidente. Como dizem os pilotos, um avião (ou um prédio) não cai, é derrubado!

Vamos analisar algumas causas que podem ocasionar o desabamento de um edifício, que pode ser até uma simples casa térrea.

1- ERRO DE PROJETO: Trata-se de uma possibilidade que não pode ser descartada. Errar é da natureza do ser humano. Para que isso não ocorra ou seja improvável ocorrer, é importante que o projetista das fundações e da estrutura tenha profundos conhecimentos teóricos e práticos do que se propõe a fazer. No Brasil, ainda é incomum as empresas e os profissionais terem um seguro de Engenharia, que cobre essas possibilidades de erros. Em países mais desenvolvidos, como a Alemanha, existem escritórios de Engenharia especializados em fazer o pós-cálculo (Nachrechnung), isso é, uma certificação de que o projeto estrutural está correto. Só, então, a obra pode ser iniciada.

2- FALHAS  NA CONSTRUÇÃO: Este é também um problema de grande importância e que tem causado a ruína de estruturas, muitas vezes, ainda na fase de construção. Pode ter como causas o despreparo dos profissionais envolvidos na construção, em todos os níveis hierárquicos, e à falha de materiais. Melhores cursos de Engenharia, treinamento da mão de obra e controle no recebimento dos insumos são fundamentais.

3- PRAZOS E CUSTOS MUITO APERTADOS: Estes são tópicos que nos dias de hoje têm uma importância relevante e que nos levam, quase sempre, aos dois primeiros itens citados anteriormente. Um bom projeto, em alguns casos, pode demorar mais do que a obra propriamente dita. Quando se atropela o tempo necessário para a maturação do projeto e para um bom planejamento e execução da obra, as consequências podem ser desagradáveis. Muitas vezes, o proprietário, devido às altas taxas de juros, deseja o retorno do investimento num prazo que pode ser inexequível se utilizarmos as boas técnicas de construção. Cabe ao profissional contratado, o grande desafio de contrapor com argumentos bem fundamentados e explicar que o prazo passa e a qualidade fica. 

4- FALTA DE MANUTENÇÃO OU MANUTENÇÃO INADEQUADA: Um edifício pode ser comparado com o corpo humano, cuja estrutura são os ossos, a alvenaria é a “carne”, a rede hidráulica são as artérias, e a rede elétrica é o sistema nervoso. Prédios, como pessoas, adoecem e não são eternos. Se não houver um tratamento (manutenção) ou for feito um tratamento inadequado, os resultados podem ser ruins. Fuja dos “faz-tudo”, dos “deixa-comigo-doutor” ou dos especialistas em outras áreas. Afinal, você não se submeteria a uma cirurgia cardíaca que fosse feita considerando apenas o menor preço ou por um profissional, por mais especializado que possa ser, que não seja um cardiologista!

5- USO INDEVIDO OU DIFERENTE PARA O QUAL FOI PROJETADO: Este tipo de acidente ocorre com mais frequência em edifícios comerciais com mezaninos, ou quando prédios residenciais são transformados em comerciais, com estoques de mercadorias em estruturas que não foram dimensionadas para esta finalidade.

6- MODIFICAÇÕES CLANDESTINAS: A estrutura de um edifício, quando é concebida e calculada, leva em conta que, para haver estabilidade, todas as forças envolvidas devem se anular. Isso é, a resultante deve ser igual a zero. Os esforços exercidos pelas lajes e paredes devem ser transmitidos às vigas, que, por sua vez, transmitem aos pilares e estes às fundações. Cada peça da estrutura é dimensionada e construída para absorver esforços pré-determinados. Quando alguma peça da estrutura (laje, viga ou pilar) é alterada ou suprimida, a carga suportada por ela será redirecionada à peça ou peças vizinhas, que não foram dimensionadas para esta nova condição, causando a sua ruptura, e desencadeando uma reação em cadeia, ocasionando o desabamento.

7- OUTRAS CAUSAS: Por fim, temos  as causas que, algumas vezes fogem do nosso controle, tais como terremotos e furacões, que em países sujeitos a estes fenômenos da natureza, possuem normas específicas de projeto e construção, tsunamis, deslizamentos de terra, queda de aeronaves e até ações terroristas, como a que causou o desabamento das torres do World Trade Center, em 2001.

Como pode ser verificado, dos sete itens listados anteriormente, seis deles podem ser evitados com a contratação e acompanhamento efetivo de profissionais habilitados e qualificados e com uma  fiscalização rigorosa dos órgãos competentes, como os Creas e as Prefeituras.