Tudo começou no final do mês de junho, quando a aeamc recebeu um pedido especial vindo da Prefeitura de Mogi das Cruzes: ajudar na concretização de um sonho da comunidade do Conjunto Habitacional Ver. Jefferson da Silva, que existe há 22 anos.
A proposta era realizar o projeto arquitônico e executivo para a construção de um Centro Comunitário de 70 metros quadrados, que será construído num terreno doado pelo Prefeitura, com uma verba de R$ 160 mil subsidiada por Furnas do Rio de Janeiro, por meio do Projeto Núcleos de Integração Comunitária, executado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
A primeira reunião foi realizada na sede da Associação, no dia 30 de junho, com a participação da líder comunitária e presidente da Associação Amigos do Conjunto Jefferson (AACJ), Luzia Santos de Menezes, da agente local do Ibase, Claudia Barbosa Luiz, e do assessor da vice-prefeita de Mogi, Arthur Eroles, juntamente com o presidente e vice-presidente da aeamc, Nelson Bettoi Batalha Neto e Miguel Assis, respectivamente, a diretoria de Arquitetura e Urbanismo da Associação, Jane Marta, o diretor-financeiro, Mauro Rossi, e o conselheiro da aeamc e arquiteto Paulo Pinhal.
Luzia explicou como foi a evolução de todo o processo desde o início, há três anos, os desafios e a elaboração do diagnóstico até a votação da comunidade do que seria mais interessante ter diante da necessidade local. Claudia também complementou com informações de como funcionou o levantamento de informações do entorno da comunidade e como o Ibase atua.
Diante do exposto, Pinhal analisou as possibilidades e sugeriu a utilização de um projeto já existente – chamado Catavento -, criado por ele há algum tempo e que poderia ser adaptado de acordo com as sugestões da comunidade. “Eu faço a doação desse projeto para a aeamc, para que ele seja utilizado na construção desse Centro Comunitário, com as alterações sugeridas”, disse.
De acordo com Luzia, depois da criação da Associação e do apoio de algumas pessoas, mostrando a todos como esse projeto ia ser bom para o Conjunto, só agora, em 2021, com a nova gestão, conseguiram o terreno da Prefeitura para que fosse possível dar continuidade a outros trâmites, como o projeto arquitetônico e executivo. “Com o apoio da aeamc, conseguimos avançar muito, dando um ânimo a mais para toda a comunidade, que não fala em outro assunto”, completou.
A intenção, segundo ela, é trazer cursos profissionalizantes, esporte, cultura e outras atividades e ações. “Essa construção será um projeto referência para outras comunidades acreditarem e batalharem pelos seus moradores. É desafiador, mas a magnitude que isso se tornou será positiva, pois vai trazer coisas boas para o Conjunto, que também será melhor visto”, ressalta.
No dia 28 de agosto, Pinhal realizou uma reunião com os moradores locais a fim de apresentar o projeto para que todos pudessem conhecer de perto todos os detalhes de como vai funcionar.
O projeto Catavento do Conjunto Jefferson foi criado e adaptado pelo arquiteto e urbanista Paulo Pinhal, com o apoio da desenhista Michelle Hasegawa. O projeto executivo está sendo feito pelo arquiteto Sandro Piereti Rodrigues, também de forma voluntária.
Projeto será autossustentável e moderno
O partido adotado do projeto arquitetônico pelo arquiteto e urbanista Paulo Pinhal é o da autossustentabilidade energética, uma vez que grande parte das Associações de Amigos de Bairros encontram dificuldades na manutenção do edifício.
Por este motivo, foi pensado num projeto que contemplasse as energias fotovoltaicas e eólicas, bem como o reuso da água e o tratamento do esgoto por biodigestor.
Dentro desta mesma linha, ainda está prevista a implantação de um viveiro de plantas e uma horta com ervas medicinais de conhecimento popular da região. Também existe uma área destinada a um viveiro de plantas nativas que podem ser comercializadas para ajudar nos custos de manutenção do Centro Comunitário ou até mesmo desenvolver um reflorestamento na comunidade com árvores frutíferas e sementeiras.
Edifício
Quanto ao edifício, ele tem dois espaços distintos. De um lado fica todo o sistema operacional da Associação e de outro um espaço de múltiplo uso, que favorece atividades diversas de acordo com as necessidades da comunidade, como apresentação de palestras, filmes e teatro, com uma fachada ativa que favorece a informação visual do que ocorre dentro do espaço, mesmo estando fora dele, já que é todo envidraçado. Esta transparência visa trazer a comunidade para dentro do edifício.
Dentro da NBR 9050, a acessibilidade de todo o edifício também foi pensada, incluindo indicações em braile e sistema de som espalhado pelo terreno. Haverá, ainda, uma praça externa para integração dos moradores e outras atividades.
“Defendemos que o edifício deve ter a participação da comunidade em seu processo e que eles sintam que é deles. Assim, colocamos uma lousa na frente do estacionamento para que, periodicamente, ou de acordo com o que a Associação estabelecer, possa ser rabiscado, desenhado, grafitado etc.”, explica Pinhal.
Segundo ele, o que realmente vai agregar valor e contribuir para a arquitetura são as atividades que serão desenvolvidas pela Associação e comunidade. “Esses valores serão levados por gerações, proporcionando melhores condições de vida para todos aqueles que se envolveram no processo, seja na construção da ideia, do espaço ou nas atividades que serão desenvolvidas”, conclui.