Orlando Pozzani Junior
Engenheiro Civil
Para todo engenheiro que trabalha em obras, o dia da concretagem é um acontecimento especial. Isso porque foram gastos dias, semanas e, dependendo do tamanho da obra, até meses, na execução do escoramento, formas, armação, instalação dos eletrodutos nas lajes etc.
À primeira vista, parece que é só lançar o concreto e a etapa do cronograma, intitulada “superestrutura”, está concluída. Só que, infelizmente, não é tão fácil assim.
Deve-se verificar, com muito cuidado, o escoramento (de preferência, deve haver um projeto), pois, afinal, o sucesso da concretagem depende da resistência do escoramento.
As formas devem estar alinhadas e niveladas (lembre-se do topógrafo nesta hora), estanques para não vazar nata de cimento, com o desmoldante adequadamente aplicado e limpo. É comum encontrar, dentro das formas, pregos soltos, serragem, restos de arame recozido e, em algumas obras – não tão bem cuidadas -, até bitucas de cigarros.
A armação deve estar corretamente posicionada, de acordo com o projeto do engenheiro calculista, e com os espaçadores plásticos colocados, de forma a garantir o recobrimento. Este é um item de extrema importância, pois é o que vai garantir a proteção da armadura contra a agressividade do meio ambiente.
Visto tudo isso, antes de lançar o concreto, é preciso definir como ele será preparado. Para isso, existem basicamente três “métodos”: 1. O concreto usinado, fornecido em caminhões betoneira; 2. O concreto feito na obra, com betoneira; e 3. O “famoso concreto tipo B”, como dizia meu ex-professor de universidade, o saudoso Eng. Falcão Bauer.
O “tipo B”, além de conter quantidades não bem definidas de areia, brita, cimento e água, não é raro encontrar-se também pedaços de tijolos, madeira, bitucas de cigarros e por aí vai. Com estas considerações, nos restam a betoneira e a usina de concreto.
O concreto feito na betoneira é indicado para quantidades pequenas, de até dois metros cúbicos, e para obras mais simples. Pode ser usado, ainda, para lastros de concreto magro.
Já em obras de maior responsabilidade, é mais recomendável a utilização do concreto usinado, que tem um controle de qualidade melhor do que aquele que se consegue na obra, pois sua dosagem é em peso, enquanto que na obra se faz em volume.
Se for colocar na ponta do lápis todos os custos envolvidos na preparação e transporte dos agregados e do concreto na obra, chega-se a valores muito próximos do concreto usinado.
Agora, para uma correta compra de concreto, é interessante especificar sempre a quantidade, em metros cúbicos, incluindo as perdas ou imprecisões devido à complexidade ou irregularidades das formas, a resistência característica à compressão do concreto (fck) especificada em projeto, e o fator água/cimento (a/c), que depende da classe de agressividade à qual a estrutura estará sujeita. Também inclui-se a trabalhabilidade do concreto, medida pelo slump-test, os agregados graúdos (brita), pois depende do espaçamento entre as barras da armação, e o tempo de entrega entre uma viagem e outra, que depende da velocidade de lançamento do concreto.
Este último item é importante, pois evita que a concretagem pare enquanto se aguarda o próximo caminhão betoneira, com risco de surgimento de juntas, além do desperdício com mão de obra ociosa ou, no caso oposto, com o acúmulo de caminhões carregados de concreto na obra, ultrapassando o prazo de lançamento. Eventual uso de concreto bombeado.
Com o concreto contratado e programado, não pode-se esquecer de verificar o dimensionamento das equipes para transporte, lançamento e acabamento, os equipamentos para vibração com os diâmetros adequados em função das dimesões das peças a serem concretadas e as instalações elétricas, como potência, tensão, isolamento de cabos etc.
É conveniente também que tenha disponível na obra um pouco de areia, brita e cimento, de preferência da mesma marca do utilizado pela concreteira, para eventuais imprevistos, como a falta de um carrinho de concreto após descarregar o último caminhão.
Pronto, depois de colocar estas etapas em prática, já está tudo preparado para o “grande dia”. Boa sorte!